A OABPrev-MG teve a oportunidade de conversar com a Dra. Xênia Artmann Guerra, Vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Mato Grosso, sobre os pontos mais importantes da relação da mulher com a advocacia, principalmente no período de pandemia. Dra. Xênia mostra, com experiência, a necessidade de ser resiliente em um cenário como o atual, principalmente no caso das novas advogadas que buscam um meio de criar sua carreira contra as marés da pandemia.

Confira a entrevista:

Gostaríamos que você nos contasse qual foi o momento em que decidiu que sua carreira seria exercer o Direito?

Dra. Xênia Artmann Guerra: Tem uma palestra sobre as carreiras jurídicas que faço para os alunos que estão cursando a faculdade de Direito em que eu mostro a necessidade, a importância da escolha da carreira jurídica e por que isso? Porque o curso de Direito nos dá várias opções. O estudante pode escolher por advogar, fazer um concurso para a magistratura, Defensoria Pública, Ministério Público, delegado, Polícia Civil. Enfim, várias são as opções do bacharel em Direito, mas eu costumo dizer que entre todas as carreiras a que mais exige do profissional é a advocacia. Ele tem que ser um profissional bem completo porque precisa desenvolver muitas competências. E, muitas vezes, o estudante acaba sendo empurrado para a advocacia porque nem sempre ele tem condição de permanecer estudando depois da faculdade. É aí que acabamos encontrando muitos profissionais que nem sempre são vocacionados para advogar. Então, especialmente, nós mulheres que já temos historicamente uma dificuldade maior de inserção no mercado de trabalho, precisamos ter muita determinação ao escolhermos a carreira jurídica da advocacia. Inicialmente, durante a faculdade, eu pensava em fazer um concurso público pela estabilidade que isso me daria enquanto mulher, pensando, por exemplo, em toda a situação de filhos. Terminei a faculdade e tive um contato maior com a advocacia. Meu marido é advogado, então, isso também contribuiu para que eu escolhesse por advogar e não por um concurso público e acabei me descobrindo na advocacia. E eu não me vejo, hoje, desenvolvendo outra função que não advogar, mas isso veio após a finalização do curso de Direito, não foi premeditado. Não iniciei a faculdade tendo a certeza de que eu seria advogada. Hoje, sou muito realizada na advocacia e não me vejo exercendo nenhuma outra carreira jurídica do Direito.


Na sua opinião, qual é o maior desafio para as mulheres que estão se tornando advogadas?

É difícil elencar só um grande desafio para as mulheres advogadas porque pensando como uma das carreiras jurídicas, apesar de não ser necessário fazer nenhum concurso público, é preciso passar no Exame da Ordem e isso já é uma grande barreira para advogar. Atualmente, somos quase 1.300.000 advogados no Brasil. Isso mostra que é uma profissão que, diferente de outros tempos, tem muitos profissionais. Sinop (MT), por exemplo, é uma cidade de aproximadamente 160, 170 mil habitantes em que temos quase 1.300 advogados. Então, um grande desafio para a mulher advogada é se inserir e criar um espaço, uma autoridade na área do Direito que ela escolher militar. Eu acho que esse é um dos principais desafios. Aí, dentro disso, conseguir fazer uma cobrança de honorários de forma adequada e conseguir manter o escritório, já que a maior parte das mulheres escolhe trabalhar para outros profissionais e não empreender no próprio escritório porque é difícil conciliar. Enfim, mas eu acredito que inicialmente os principais desafios são a inserção no mercado de trabalho e a criação de um espaço em que a mulher advogada tenha reconhecimento.


Como conciliar a vida pessoal e profissional, principalmente neste momento de pandemia?

Eu escrevi um artigo no começo do mês de março sobre essa questão, a questão da mulher em meio à pandemia. Nós somos quase 70% dos profissionais da área de saúde que estão lá na ponta da corda, mais expostos ao risco. Tivemos que nos reinventar com as jornadas. Eu comentei no artigo que, se em outros anos, nos discursos do março, as dificuldades da mulher se resumiam à dupla ou tripla jornada como trabalhar de dia, cuidar dos filhos e da casa à noite porque nós temos uma dificuldade de delegar essas funções, neste ano, em meio a este cenário de pandemia, home office, homeschoolling, o que nós falamos é da interposição dessas jornadas. Acredito que o mais difícil de conciliar a vida pessoal e a vida profissional é conseguir delimitar os espaços. Delimitar quais são as obrigações, quem são os titulares das obrigações tanto no ambiente de trabalho quanto no ambiente familiar para que a mulher, novamente, não se sobrecarregue. É necessário que ela diga: Olha, a mamãe está trabalhando, assim que eu terminar aqui eu consigo te atender. Ou então falar: Essa demanda, esposo, quem vai fazer é você porque eu tenho agora essa outra prioridade. Temos que conseguir delegar e não querer ficar com todas as responsabilidades. Entendo ser este o segredo dessa alquimia de conciliar a vida pessoal e profissional em meio à pandemia.


Qual foi o seu primeiro contato com a previdência complementar?

Foi no ano de 2009 quando eu iniciei na advocacia. Logo eu engravidei e aí deixei de ter uma preocupação só comigo. Passei a ter uma preocupação sobre gestão também de família, prole, né? E nesse momento comecei a me preocupar com essa questão da estabilidade. Quando vi que minha vocação não era para o concurso público, mas para a iniciativa privada, para a advocacia, eu tive o primeiro contato com a previdência complementar.


Em que momento você sentiu a necessidade de pensar no futuro e procurar um investimento para sua aposentadoria?

A necessidade nasceu da preocupação de ter a segurança que – independentemente de alguma coisa acontecer ou não, algum contratempo de saúde ou não – eu vou conseguir manter organizadas as contas, manter organizado quem depende de mim.


Se você pudesse dar uma dica para as advogadas, qual seria?

Se eu pudesse dar uma dica para as advogadas seria para serem resilientes. Se vocês se identificaram com uma mulher vocacionada para a advocacia, não desistam. Há inúmeros desafios, assim como outras carreiras, mas se você tem uma vocação para a advocacia não desperdice seu talento em nenhuma outra carreira jurídica. Invista em situações como a previdência; conseguir formar uma boa equipe; delimitar o seu tempo, estabelecendo limites; delegar as funções da casa para que você tenha tempo para se dedicar ao exercício da advocacia. Eu tenho certeza que plantando bem é possível uma colheita muito rica dentro da advocacia.


A OABPrev-MG agradece a participação ilustre da Dra. Xênia Artmann neste assunto tão importante e tão pouco abordado, que necessita de luz para alcançar as advogadas e futuras advogadas neste caminho rumo a uma carreira de sucesso e um futuro brilhante.  Continue acompanhando as redes sociais da OABPrev-MG e não perca nenhum conteúdo feito para você.

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